Eu estava contigo. Os nosso dominós eram negros, e negras eram as nossas máscaras.
Íamos, por entre a turba, com solenidade,
Bem conscientes do nosso ar lúgubre
Tão contrastado pelo sentimento de felicidade
Que nos penetrava. Um lento, suave júbilo
Que nos penetrava... Que nos penetrava como uma espada de fogo...
Como a espada de fogo que apunhalava as santas extáticas!
E a impressão em meu sonho era que se estávamos
Assim de negro, assim por fora inteiramente de negro,
- Dentro de nós, ao contrário, era tudo claro e luminoso!
Era terça feira gorda. A multidão inumerável
Burburinhava. entre clangores de fanfarra
Passavam préstitos apotéoticos.
Eram alegorias ingênuas ao gosto popular, em cores cruas.
Iam em cima, empoleiradas, mulheres de má vida.
De peitos enormes - Vênus para caixeiros.
Figuravam deuas - deusa disto, deusa daquilo, já tontas e seminuas.
A turba, ávida de prosmicuidade,
Acotovelava-se com algazarra,
Aclamava-as com alarido
E, aqui e ali, virgens atiravam-lhes flores.
Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade,
O ar lúgubre, negros, negros...
Mas dentro de nós era tudo claro e luminoso!
Nem a alegria estava ali, fora de nós.
A alegria estava em nós.
Era dentro de nós que estava a alegria,
- A profunda, a silenciosa alegria...
bandeira (L)
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